Skip to main content

Trabalho de parto

Guia Prático: Condução do Trabalho de Parto em Ambiente Não Hospitalar

AVALIAÇÃO INICIAL

Triagem Rápida

  • História gestacional: IG, número de gestações, partos anteriores, pré-natal
  • Início do trabalho de parto: frequência e duração das contrações
  • Estado das membranas: rotas ou íntegras, características do líquido amniótico
  • Sangramento vaginal: presença, quantidade, características
  • Movimentação fetal: presente nos últimos momentos
  • Dor: localização, intensidade, irradiação

Exame Físico Obstétrico

Sinais vitais maternos:

  • PA, FC, Tax, SatO₂
  • Estado geral e nível de consciência

Exame abdominal:

  • Altura uterina, apresentação fetal
  • Frequência e duração das contrações
  • Batimentos cardiofetais (se disponível estetoscópio de Pinard)

Exame do períneo:

  • Dilatação cervical, apagamento
  • Apresentação, variedade de posição
  • Bolsa das águas

CRITÉRIOS PARA CONDUÇÃO LOCAL vs TRANSFERÊNCIA

Conduzir no Local

  • Parto iminente (período expulsivo avançado)
  • Apresentação cefálica de vértice
  • Gestação a termo (≥37 semanas)
  • Ausência de complicações materno-fetais
  • Impossibilidade de transferência rápida

Transferência Urgente

  • Apresentação anômala (pélvica, córmica)
  • Prolapso de cordão umbilical
  • Hemorragia importante
  • Sinais de sofrimento fetal
  • Eclâmpsia/pré-eclâmpsia grave
  • Parada da progressão do trabalho de parto

PREPARO DO AMBIENTE

Material Essencial

  • Luvas estéreis
  • Compressas/campos estéreis
  • Pinças hemostáticas (2 unidades)
  • Tesoura estéril
  • Aspirador manual ou pera
  • Oxitocina (se disponível)
  • Soro fisiológico
  • Material para acesso venoso

Organização do Espaço

  • Superfície plana e firme para a paciente
  • Iluminação adequada
  • Privacidade
  • Aquecimento para o recém-nascido
  • Facilitar acesso para possível reanimação

CONDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO

Período Dilatante

  • Monitorização: contrações, FCF, progressão da dilatação
  • Hidratação: acesso venoso com SF 0,9% ou RL
  • Posicionamento: permitir deambulação se possível
  • Analgesia: medidas não farmacológicas (massagem, respiração)
  • Tempo limite:
    • Primípara: até 20h
    • Multípara: até 14h

Período Expulsivo

Sinais de período expulsivo:

  • Puxos involuntários
  • Abaulamento do períneo
  • Visualização do polo cefálico

Assistência ao parto:

  1. Posicionamento materno: decúbito dorsal com coxas fletidas
  2. Proteção do períneo: com compressa durante a distensão
  3. Desprendimento cefálico:
    • Controlar a deflexão
    • Evitar expulsão brusca
  4. Desprendimento dos ombros:
    • Rotação externa espontânea
    • Tração suave para baixo (ombro anterior)
    • Tração suave para cima (ombro posterior)
  5. Desprendimento do tronco: em direção ao abdome materno

CUIDADOS IMEDIATOS COM O RECÉM-NASCIDO

Primeiros Cuidados

  1. Aspiração: boca e narinas (se necessário)
  2. Secagem e aquecimento: compressa seca e aquecida
  3. Avaliação da vitalidade:
    • Respiração espontânea
    • Frequência cardíaca
    • Tônus muscular
    • Cor

Clampeamento do Cordão

  • Tempo: 1-3 minutos após o nascimento (se RN vigoroso)
  • Técnica:
    • Primeira pinça a 2-3cm do abdome do RN
    • Segunda pinça a 2-3cm da primeira
    • Corte entre as pinças com tesoura estéril

Apgar (1º e 5º minutos)

  • Frequência cardíaca: >100 = 2 / <100 = 1 / ausente = 0
  • Respiração: regular = 2 / irregular = 1 / ausente = 0
  • Tônus: ativo = 2 / pouco ativo = 1 / flácido = 0
  • Irritabilidade reflexa: choro = 2 / careta = 1 / ausente = 0
  • Cor: rosado = 2 / extremidades cianóticas = 1 / cianótico = 0

TERCEIRO PERÍODO - DEQUITAÇÃO

Sinais de Descolamento Placentário

  • Jorro de sangue pela vagina
  • Alongamento do cordão umbilical
  • Mudança na forma e altura do útero
  • Sensação de peso no hipogástrio

Assistência à Dequitação

  1. Não tracionar o cordão ativamente
  2. Aguardar sinais de descolamento (até 30 minutos)
  3. Manobra de Brandt-Andrews (se necessário):
    • Mão no fundo uterino
    • Tração controlada do cordão
  4. Revisão da placenta: integridade dos cotilédones

Uso de Ocitócicos

Indicações:

  • Prevenção de hemorragia pós-parto
  • Atonia uterina

Ocitocina:

  • 10UI IM imediatamente após a dequitação
  • Ou 10UI EV em 500ml SF 0,9% em gotejamento rápido

COMPLICAÇÕES E MANEJO INICIAL

Hemorragia Pós-Parto

Definição: Perda sanguínea >500ml (parto vaginal)

Causas principais (4 T's):

  • Tônus: atonia uterina (mais comum)
  • Trauma: lacerações
  • Tecido: retenção placentária
  • Trombina: coagulopatias

Conduta:

  1. Massagem uterina vigorosa
  2. Ocitocina 10UI IM + infusão EV
  3. Acesso venoso calibroso (2 acessos se possível)
  4. Reposição volêmica com cristaloides
  5. Compressão bimanual do útero se atonia persistente
  6. Transferência urgente

Distocia de Ombro

Sinais: cabeça desprendida, mas ombros impactados

Manobras sequenciais:

  1. McRoberts: hiperflexão dos quadris maternos
  2. Pressão suprapúbica: no ombro anterior
  3. Rotação do ombro posterior (Manobra de Woods)
  4. Não tracionar a cabeça fetal

Prolapso de Cordão

Conduta:

  1. Posição genu-peitoral materna
  2. Recolocar o cordão na vagina se possível
  3. Não comprimir o cordão
  4. Transferência urgente para cesariana

Hemorragia Anteparto

Suspeita de placenta prévia ou descolamento:

  1. Não realizar toque vaginal
  2. Acesso venoso imediato
  3. Reposição volêmica
  4. Transferência urgente

PRÉ-ECLÂMPSIA/ECLÂMPSIA

Sinais de Alerta

  • PA ≥160/110 mmHg
  • Cefaleia intensa
  • Escotomas visuais
  • Epigastralgia
  • Convulsões

Conduta na Eclâmpsia

  1. Controle das convulsões:
    • Sulfato de magnésio 4g EV em 20 minutos
    • Manutenção: 1g/h EV
  2. Controle pressórico:
    • Nifedipina 10mg sublingual
    • Meta: PA <160/110 mmHg
  3. Via aérea pérvia
  4. Transferência urgente

CRITÉRIOS DE TRANSFERÊNCIA DURANTE O TRABALHO DE PARTO

Imediatos

  • Hemorragia materna importante
  • Convulsões maternas
  • Prolapso de cordão
  • Sofrimento fetal agudo
  • Apresentação anômala

Não Urgentes (após estabilização)

  • Parada de progressão
  • Distocias
  • Trabalho de parto prolongado
  • Complicações menores do períneo

REGISTRO E DOCUMENTAÇÃO

Informações Obrigatórias

  • Horário do nascimento
  • Peso estimado do RN
  • Apgar 1º e 5º minutos
  • Integridade placentária
  • Intercorrências materno-fetais
  • Medicações utilizadas
  • Procedimentos realizados

Comunicação

  • Família sobre evolução
  • Serviço de destino (se transferência)
  • Unidade básica para seguimento
  • Cartório para registro civil

MEDICAÇÕES E DOSAGENS

Medicação Indicação Dose Via
Ocitocina Atonia uterina 10UI IM/EV
Sulfato de Magnésio Eclâmpsia 4g (ataque) + 1g/h EV
Nifedipina Crise hipertensiva 10mg Sublingual
Soro Fisiológico Reposição volêmica 500-1000ml EV

PONTOS-CHAVE PARA SUCESSO

Preparação adequada do ambiente e material

Avaliação rápida para identificar complicações

Não intervir desnecessariamente no parto normal

Reconhecer limites e transferir quando indicado

Priorizar segurança materno-fetal sempre

Documentar adequadamente todos os procedimentos