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Cetoacidose Diabética (CAD)

Guia completo para manejo da cetoacidose diabética: hidratação venosa, insulinoterapia, correção de eletrólitos, identificação de fatores precipitantes. Inclui prescrições práticas, critérios diagnósticos, classificação de gravidade e orientações para internação.

Paciente típico: Adulto jovem (18-44 anos) com diabetes tipo 1, apresentando poliúria, polidipsia, náuseas, vômitos e dor abdominal há ❓ dias. Pode ter histórico de omissão de doses de insulina ou quadro infeccioso intercorrente.


🩺 Guia rápido

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História clínica típica
# História Clínica
Paciente diabético tipo 1, ❓ anos, com história de poliúria e polidipsia há ❓ dias, associado a náuseas e vômitos há ❓ horas. Refere emagrecimento de ❓ kg no último mês. Relata ter omitido algumas doses de insulina nos últimos dias. Nega febre inicialmente, mas refere fraqueza intensa e confusão mental nas últimas ❓ horas.

Sintomas associados: dor abdominal difusa, tosse produtiva há ❓ dias, letargia progressiva.

Nega alergias medicamentosas.

Fatores precipitantes investigados: infecção respiratória/urinária, uso irregular de insulina.

# Exame físico
Estado geral: Paciente prostrado, desidratado (+++/4+), mucosas secas, turgor diminuído.
Sinais vitais: PA ❓ mmHg, FC ❓ bpm (taquicárdico), FR ❓ irpm (taquipneico), Tax ❓°C, SatO2 ❓% em ar ambiente.
Hálito cetônico presente.
Padrão respiratório: Respiração de Kussmaul (respirações profundas e rápidas).
Nível de consciência: Glasgow ❓ (alerta/sonolento/estuporoso).
Cardiovascular: Taquicárdico, bulhas rítmicas normofonéticas, sem sopros.
Respiratório: Murmúrio vesicular presente bilateralmente, sem ruídos adventícios.
Abdome: Flácido, difusamente doloroso à palpação, sem sinais de irritação peritoneal, RHA presentes.
Extremidades: Perfusão periférica lentificada, pulsos palpáveis.

# HD
- Cetoacidose diabética (leve/moderada/grave - classificar após exames)
- Diabetes mellitus tipo 1 descompensado
- Investigar fator precipitante: pneumonia/ITU/omissão de insulina

# Conduta
- Estabilização inicial: ABC, acesso venoso calibroso (2 acessos se possível)
- Expansão volêmica vigorosa com SF 0,9% 1000-1500 mL em 1 hora
- Coleta de exames: gasometria, glicemia, eletrólitos (Na, K, Cl), função renal, hemograma, EAS, cetonemia/cetonúria
- Iniciar insulinoterapia EV em BIC após K > 3,3 mEq/L
- Reposição de potássio conforme protocolo
- Hidratação venosa contínua guiada por Na corrigido
- Monitorização contínua: HGT 1/1h, sinais vitais, débito urinário
- Investigar e tratar foco infeccioso
- Internação hospitalar obrigatória (UTI se CAD moderada/grave)
- Afastamento: internação hospitalar até resolução da CAD
Prescrição para paciente típico
No pronto-socorro:
# FASE 1: ESTABILIZAÇÃO E EXPANSÃO VOLÊMICA (primeira hora)
01. SF 0,9% 1500 mL – EV, correr em 1 hora (15-20 mL/kg)
02. Glicemia capilar – 1/1h
03. Monitorização contínua (PA, FC, FR, SatO2, ECG)
04. Dieta zero

# AGUARDAR RESULTADOS LABORATORIAIS (K+, Na, gasometria, glicemia)

# FASE 2: HIDRATAÇÃO CONTÍNUA (após expansão inicial)
05. Escolher conforme Na corrigido*:
    - Se Na corrigido < 135: SF 0,9% 500 mL/h EV
    - Se Na corrigido ≥ 135: NaCl 0,45%** 500 mL/h EV

# FASE 3: INSULINOTERAPIA (iniciar apenas se K > 3,3 mEq/L)
06. Insulina regular 100 UI (1 mL) + SF 0,9% 99 mL (concentração: 1 UI/mL)
    Administrar 0,1 UI/kg/h EV em BIC
    Exemplo paciente 70 kg: correr a 7 mL/h na bomba de infusão

# REPOSIÇÃO DE POTÁSSIO (associar à hidratação)
07. Escolher conforme K sérico:
    - Se K < 3,3 mEq/L: KCl 19,1% 20 mL + SF 0,9% 1000 mL, EV, correr em 1-2h
      (NÃO iniciar insulina até K > 3,3)
    - Se K 3,3-5,0 mEq/L: KCl 19,1% 10 mL + SF 0,9% 1000 mL, EV, a cada 2h
    - Se K > 5,0 mEq/L: aguardar e reavaliar K em 2h

# CORREÇÃO DE ACIDOSE GRAVE (apenas se pH < 7,0)
08. Bicarbonato de sódio 8,4% 100 mL + SF 0,9% 400 mL, EV, correr em 2h
    Reavaliar pH em 2h

# MEDICAÇÕES SINTOMÁTICAS
09. Metoclopramida 10 mg/2 mL – 01 ampola (10 mg) diluída em 8 mL de AD, EV lento, até 8/8h se náuseas/vômitos
10. Dipirona 500 mg/mL – 01 ampola (2 mL = 1g) + 8 mL de SF 0,9%, EV lento, até 6/6h se dor ou febre
11. Omeprazol 40 mg – EV, 1x/dia pela manhã (proteção gástrica)

# AJUSTES CONFORME EVOLUÇÃO
- Quando HGT < 250 mg/dL: Reduzir insulina para 0,05 UI/kg/h + Iniciar SG 5% 250 mL/h
- Alvo glicêmico: manter entre 150-200 mg/dL até resolução da CAD
- Reavaliar eletrólitos a cada 2-4h, gasometria a cada 4h

*Na corrigido = Na sérico + [1,6 × (glicemia - 100)/100]
**NaCl 0,45% = SF 0,9% 250 mL + água destilada 250 mL

Para casa:
⚠️ IMPORTANTE: Cetoacidose diabética requer INTERNAÇÃO HOSPITALAR obrigatória.
Não há alta direta do pronto-socorro para casa.

Após resolução da CAD e alta hospitalar, o paciente deverá:

01. Insulina NPH ❓ UI ––––––––––– conforme ajuste hospitalar
Aplicar ❓ UI SC pela manhã (antes do café) e ❓ UI SC à noite (antes do jantar)
Uso contínuo

02. Insulina regular ❓ UI ––––––––––– conforme ajuste hospitalar
Aplicar ❓ UI SC antes das principais refeições (café, almoço, jantar)
Ajustar conforme glicemia capilar e orientação da endocrinologia
Uso contínuo

03. Glicosímetro e fitas reagentes ––––––––––– 
Realizar glicemia capilar antes das refeições e ao deitar (4-6x/dia)
Anotar resultados para ajuste de doses

# ORIENTAÇÕES GERAIS
- Retorno ambulatorial com endocrinologista em ❓ dias
- Manter hidratação oral adequada
- Nunca omitir doses de insulina
- Procurar atendimento imediato se: náuseas/vômitos persistentes, glicemia > 300 mg/dL persistente, confusão mental, dor abdominal intensa

🏥 NO PRONTO-SOCORRO

  • ⚠️ MANEJO E CUIDADOS INICIAIS
    • Prioridade absoluta: ABC (vias aéreas, respiração, circulação) e estabilização hemodinâmica
    • Acesso venoso: Obter 2 acessos calibrosos imediatamente
    • Hidratação agressiva: Iniciar SF 0,9% 1000-1500 mL na primeira hora (15-20 mL/kg)
    • NÃO iniciar insulina antes de: Ter resultado de K+ sérico e garantir K > 3,3 mEq/L
    • Critérios diagnósticos (devem estar presentes todos os 3):
      • Hiperglicemia ≥ 200 mg/dL (ou história de diabetes)
      • Acidose metabólica: pH < 7,3 ou bicarbonato < 18 mEq/L
      • Cetose: cetonemia ≥ 3 mmol/L ou cetonúria ≥ 2+
    • Classificação de gravidade:
      • Leve: pH 7,25-7,30 | HCO3 15-18 | Alerta → Enfermaria
      • Moderada: pH 7,0-7,25 | HCO3 10-15 | Sonolento → UTI
      • Grave: pH < 7,0 | HCO3 < 10 | Estupor/coma → UTI
    • Exames iniciais obrigatórios:
      • Gasometria arterial ou venosa (pH, HCO3, ânion gap)
      • Glicemia sérica + HGT
      • Eletrólitos completos (Na, K, Cl, Ca, Mg, P)
      • Função renal (ureia, creatinina)
      • Hemograma (leucócitos > 25.000 ou bastões > 10% = infecção)
      • EAS + cetonúria/cetonemia
      • Amilase e lipase (se dor abdominal)
      • ECG (avaliar arritmias por distúrbios de K)
      • Rx tórax + culturas se suspeita de infecção
    • Sinais de alarme/complicações:
      • Queda rápida da glicemia (> 100 mg/dL/h) → risco de edema cerebral
      • Hipocalemia durante tratamento → risco de arritmias/PCR
      • Dor abdominal intensa → descartar pancreatite aguda
      • Rebaixamento do nível de consciência progressivo → edema cerebral
      • Febre alta + leucocitose intensa → foco infeccioso
    • Fatores precipitantes comuns a investigar:
      • Infecção (50%): pneumonia, ITU, COVID-19
      • Omissão/dose inadequada de insulina (25%)
      • Diabetes recém-diagnosticado (20%)
      • IAM, AVC, pancreatite, trauma, uso de drogas (cocaína, corticoides, SGLT2i)

  • HIDRATAÇÃO VENOSA
    • Prescrição prática:
      • SF 0,9% 1000-1500 mL – EV, correr em 1 hora (fase rápida)
      • Após expansão inicial:
      • SF 0,9% 500 mL – EV, 1/1h (se Na corrigido < 135)
      • NaCl 0,45% 500 mL – EV, 1/1h (se Na corrigido ≥ 135)
      • Preparar NaCl 0,45%: SF 0,9% 250 mL + água destilada 250 mL
    • Alternativas:
      • Ringer Lactato 1000 mL – EV, correr em 1 hora (alternativa ao SF 0,9% na expansão)
      • Plasmalyte 1000 mL – EV, correr em 1 hora (se disponível)
    • Indicações:
      • Todos os pacientes com CAD apresentam desidratação grave (déficit médio de 6L)
      • Primeira medida terapêutica antes mesmo de iniciar insulina
      • Corrige hipovolemia, melhora perfusão renal e diminui contra-regulação hormonal
    • Apresentações:
      • Soro fisiológico 0,9% (NaCl 0,9%): bolsas de 100 mL, 250 mL, 500 mL, 1000 mL
      • Ringer Lactato: bolsas de 500 mL, 1000 mL
      • Água destilada: ampolas de 10 mL, frascos de 250 mL, 500 mL
    • Via(s): 💉 EV
    • Cuidados:
      • Calcular Na corrigido = Na sérico + [1,6 × (glicemia - 100)/100]
      • Meta: repor o déficit em 24-48 horas
      • Evitar hidratação excessivamente rápida → risco de edema cerebral
      • Quando glicemia < 250 mg/dL: associar SG 5% 250 mL/h para evitar hipoglicemia
      • Hipovolemia grave/choque: pode necessitar SF 0,9% 1L/h + vasopressores
      • Monitorar balanço hídrico, débito urinário e sinais vitais continuamente
      • Idosos e cardiopatas: ajustar velocidade de infusão (risco de sobrecarga)

 

  • INSULINOTERAPIA
    • Prescrição prática:
      • Insulina regular 100 UI/mL (1 mL) + SF 0,9% 99 mL – EV em BIC
      • Concentração final: 1 UI/mL
      • Dose: 0,1 UI/kg/h (paciente de 70 kg = 7 mL/h na bomba)
      • Bólus inicial (opcional): 0,1 UI/kg EV antes de iniciar BIC
      • Quando HGT < 250 mg/dL: reduzir para 0,05 UI/kg/h
    • Alternativas (CAD leve, sem bomba de infusão):
      • Insulina regular 0,3 UI/kg – SC, dose única, seguida de 0,2 UI/kg SC 2/2h
      • Lispro 0,2-0,3 UI/kg – SC, dose única, seguida de 0,1 UI/kg SC 2/2h
      • Aspart 0,2-0,3 UI/kg – SC, dose única, seguida de 0,1 UI/kg SC 2/2h
    • Indicações:
      • Tratamento definitivo da CAD
      • Inibir lipólise e cetogênese
      • Facilitar entrada de glicose nas células
    • Apresentações:
      • Insulina regular 100 UI/mL: frascos de 10 mL
      • Lispro 100 UI/mL: canetas de 3 mL
      • Aspart 100 UI/mL: canetas de 3 mL
    • Via(s): 💉 EV (preferencial em CAD moderada/grave) | 💉 SC (CAD leve)
    • Cuidados:
      • CRÍTICO: Iniciar apenas se K > 3,3 mEq/L (insulina piora hipocalemia)
      • Meta: reduzir glicemia 50-75 mg/dL/h
      • Se redução > 75 mg/dL/h → reduzir BIC pela metade (risco de edema cerebral)
      • Se redução < 50 mg/dL/h → dobrar velocidade da BIC
      • HGT de hora em hora até estabilização
      • Quando HGT < 250 mg/dL: iniciar SG 5% + reduzir insulina (manter entre 150-200 mg/dL)
      • Trocar solução de insulina a cada 6 horas
      • Transição para insulina SC: manter infusão EV por 1-2h após primeira dose SC
      • Complicação principal: hipoglicemia (monitorar rigorosamente)
      • Após resolução da CAD: dose basal-bólus 0,5-0,8 UI/kg/dia dividida

 

  • CORREÇÃO DE POTÁSSIO
    • Prescrição prática:
      • KCl 19,1% (2,5 mEq/mL):
      • Se K < 3,3 mEq/L: KCl 19,1% 20 mL + SF 0,9% 1000 mL, EV, correr em 1-2h (até K > 3,3)
      • Se K 3,3-5,0 mEq/L: KCl 19,1% 10 mL + SF 0,9% 1000 mL, EV, a cada 2h
      • Se K > 5,0 mEq/L: não repor, apenas monitorar K a cada 2h
    • Alternativas:
      • KCl 10% (1,34 mEq/mL): usar o dobro do volume (ex: 20 mL se K < 3,3)
      • Fosfato de potássio (se hipofosfatemia associada < 1,0 mg/dL): 20-30 mEq/L
    • Indicações:
      • Todos os pacientes com CAD têm depleção de K corporal total
      • K sérico pode estar falsamente normal/elevado pela acidose
      • Insulinoterapia causa entrada de K para dentro das células → piora hipocalemia
    • Apresentações:
      • Cloreto de potássio 19,1% (KCl 19,1%): ampolas de 10 mL
      • Cloreto de potássio 10% (KCl 10%): ampolas de 10 mL
    • Via(s): 💉 EV (sempre diluído, nunca puro)
    • Cuidados:
      • CRÍTICO: Dosar K antes de iniciar insulina
      • NUNCA fazer insulina se K < 3,3 → risco de arritmia fatal
      • Meta: manter K entre 4-5 mEq/L durante o tratamento
      • Máximo de infusão: 10-20 mEq/h (velocidades maiores → risco de PCR)
      • Monitorar K a cada 2h nas primeiras 6h, depois 4/4h
      • Garantir diurese adequada antes de repor K
      • ECG contínuo se hipocalemia grave ou durante reposição rápida
      • Hipocalemia grave (< 2,5): pode necessitar UTI e reposição mais agressiva
      • Hipercalemia (> 5,5) ao diagnóstico: não repor, reavaliar em 2h após insulina

 

  • CORREÇÃO DE ACIDOSE GRAVE
    • Prescrição prática:
      • Bicarbonato de sódio 8,4% (1 mEq/mL) 100 mL + SF 0,9% 400 mL – EV, correr em 2h
      • Reavaliar pH em 2h, repetir se pH ainda < 7,0
    • Alternativas:
      • Se pH entre 6,9-7,0: Bicarbonato 8,4% 50 mL + SF 0,9% 200 mL – EV em 1h
    • Indicações:
      • APENAS se pH < 7,0 (ou < 6,9 segundo alguns protocolos)
      • Acidose muito grave com risco de instabilidade hemodinâmica
      • Não é indicado de rotina em CAD
    • Apresentações:
      • Bicarbonato de sódio 8,4%: frascos de 10 mL, 50 mL, 100 mL
    • Via(s): 💉 EV (sempre diluído)
    • Cuidados:
      • Uso controverso - não administrar rotineiramente
      • Pode causar: piora da hipocalemia, alcalose paradoxal do SNC, hipóxia tecidual
      • Monitorar K rigorosamente (risco de hipocalemia grave)
      • Reavaliar gasometria 2h após infusão
      • Suspender quando pH ≥ 7,0
      • A insulinoterapia e hidratação geralmente corrigem a acidose sem necessidade de HCO3
      • Bicarbonato NÃO acelera resolução da cetose
      • Preferência: tratar a causa (insulina + fluidos) em vez de bicarbonato

 

  • ANTIEMÉTICO
    • Prescrição prática:
      • Metoclopramida 10 mg/2 mL – 01 ampola (10 mg) + 8 mL de AD, EV lento, até 8/8h
      • Bromoprida 10 mg/2 mL – 01 ampola (10 mg), EV lento, até 8/8h
    • Alternativas:
      • Ondansetrona 8 mg/4 mL – 01 ampola (8 mg) diluída em 50 mL de SF 0,9%, EV em 15 min, até 8/8h
    • Indicações:
      • Náuseas e vômitos (sintomas muito comuns na CAD)
      • Vômitos podem agravar desidratação e dificultar reintrodução de dieta
    • Apresentações:
      • Metoclopramida: ampolas de 2 mL (10 mg)
      • Bromoprida: ampolas de 2 mL (10 mg)
      • Ondansetrona: ampolas de 2 mL (4 mg) e 4 mL (8 mg)
    • Via(s): 💉 EV | 💉 IM
    • Cuidados:
      • Metoclopramida/Bromoprida: evitar em < 18 anos (risco de sintomas extrapiramidais)
      • Ondansetrona: pode prolongar intervalo QT (cuidado em cardiopatas)
      • Dose máxima metoclopramida: 30 mg/dia
      • Suspender quando paciente aceitar dieta oral
      • Vômitos persistentes apesar de antiemético: investigar outras causas

 

  • ANALGÉSICO / ANTITÉRMICO
    • Prescrição prática:
      • Dipirona 500 mg/mL – 01 ampola (2 mL = 1g) + 8 mL de SF 0,9%, EV lento (5-10 min), até 6/6h
    • Alternativas:
      • Paracetamol 10 mg/mL – 100 mL (1g), EV em 15 min, até 6/6h
      • Tramadol 50 mg/mL – 01 ampola (2 mL = 100 mg) diluída em 100 mL SF 0,9%, EV em 20 min, até 8/8h (dor intensa)
    • Indicações:
      • Dor abdominal (comum na CAD pela acidose)
      • Febre ≥ 37,8°C (se foco infeccioso)
      • Cefaleia
    • Apresentações:
      • Dipirona: ampolas de 2 mL (500 mg/mL)
      • Paracetamol: frascos de 100 mL (10 mg/mL = 1g)
      • Tramadol: ampolas de 2 mL (50 mg/mL)
    • Via(s): 💉 EV | 💉 IM
    • Cuidados:
      • Dose máxima dipirona: 5g/dia (24h)
      • Dose máxima paracetamol: 4g/dia
      • Tramadol: risco de náuseas (considerar antiemético profilático)
      • Dor abdominal intensa/progressiva: descartar pancreatite, abdome agudo
      • Evitar AINEs na fase aguda (risco de piora da função renal)

 

  • PROTEÇÃO GÁSTRICA
    • Prescrição prática:
      • Omeprazol 40 mg – 01 frasco-ampola diluído em 100 mL SF 0,9%, EV em 20 min, 1x/dia pela manhã
    • Alternativas:
      • Pantoprazol 40 mg – 01 frasco-ampola diluído em 100 mL SF 0,9%, EV em 15 min, 1x/dia
      • Ranitidina 50 mg/2 mL – 01 ampola diluída em 100 mL SF 0,9%, EV lento, 12/12h
    • Indicações:
      • Proteção gástrica durante internação
      • Náuseas e vômitos importantes
      • Prevenção de gastropatia por estresse
    • Apresentações:
      • Omeprazol: frasco-ampola de 40 mg
      • Pantoprazol: frasco-ampola de 40 mg
      • Ranitidina: ampolas de 2 mL (50 mg)
    • Via(s): 💉 EV | 💊 Oral (quando aceitar VO)
    • Cuidados:
      • Administrar preferencialmente pela manhã em jejum
      • Pode ser mantido até alta hospitalar
      • Não interfere no tratamento da CAD

🏠 PARA CASA

⚠️ IMPORTANTE: Cetoacidose diabética é uma emergência que requer internação hospitalar obrigatória para tratamento em ambiente hospitalar (enfermaria ou UTI). Não há alta direta do pronto-socorro para casa. As orientações abaixo referem-se ao período pós-alta hospitalar, após resolução completa da CAD.

Critérios de resolução da CAD (para considerar alta hospitalar):

  • pH ≥ 7,3
  • Bicarbonato sérico ≥ 18 mEq/L
  • Cetonemia < 0,6 mmol/L
  • Glicemia < 200 mg/dL
  • Paciente aceitando dieta oral
  • Estabilidade hemodinâmica

  • INSULINOTERAPIA AMBULATORIAL (pós-alta hospitalar)
    • Prescrição:
      • Paciente com diabetes prévio: Retornar ao esquema ambulatorial prévio de insulina, com ajustes se necessário
      • Paciente recém-diagnosticado: Insulina NPH + Insulina regular em esquema basal-bólus (0,5-0,8 UI/kg/dia total)
      • Exemplo para paciente 70 kg (dose total 40 UI/dia):
        • Insulina NPH 100 UI/mL – Aplicar 14 UI SC antes do café da manhã e 10 UI SC antes do jantar
        • Insulina regular 100 UI/mL – Aplicar 5-6 UI SC antes de cada refeição principal (café, almoço, jantar), ajustar conforme glicemia
    • Indicações:
      • Controle glicêmico ambulatorial após alta
      • Prevenção de novas descompensações
      • Todo paciente com diabetes tipo 1 necessita insulina contínua
    • Apresentações:
      • Insulina NPH 100 UI/mL: frascos de 10 mL, canetas descartáveis
      • Insulina regular 100 UI/mL: frascos de 10 mL, canetas descartáveis
      • Análogos de longa duração (Glargina, Detemir, Degludeca): canetas
    • Posologia:
      • NPH: 2x/dia (manhã e noite) ou 3x/dia se controle inadequado
      • Regular: antes das refeições principais (3-4x/dia)
      • Ajustar doses conforme automonitorização glicêmica
    • Cuidados:
      • NUNCA omitir doses de insulina - principal causa de recorrência de CAD
      • Aplicar em tecido subcutâneo (abdome, coxas, braços) rodando os locais
      • Armazenar na geladeira (não congelar), frasco em uso pode ficar fora até 28 dias
      • Reconhecer sinais de hipoglicemia: sudorese, tremores, fome, confusão
      • Manter glicosímetro e fitas reagentes em casa
      • Realizar glicemia capilar 4-6x/dia (jejum, pré-refeições, deitar)
      • Em dias de doença: NÃO suspender insulina, manter hidratação, monitorar cetonúria
      • Retorno com endocrinologista em 7-15 dias para ajustes
      • Se glicemia > 300 mg/dL persistente ou cetonúria positiva: procurar PS

 

  • ANTIDIABÉTICO ORAL (se DM tipo 2 associado)
    • Prescrição:
      • Metformina 850 mg – Tomar 01 comprimido, VO, 12/12h, durante ou após as refeições
    • Indicações:
      • Pacientes com diabetes tipo 2 que usavam antidiabéticos orais previamente
      • Após resolução completa da CAD e reinício de dieta oral
      • Nunca como monoterapia em paciente que teve CAD (sempre associar insulina)
    • Apresentações:
      • Metformina 500 mg, 850 mg, 1000 mg: comprimidos
    • Posologia:
      • Iniciar com dose baixa (500-850 mg 1-2x/dia) e aumentar gradualmente
      • Dose máxima: 2550 mg/dia (dividida em 2-3 tomadas)
    • Cuidados:
      • Contraindicado se creatinina > 1,5 mg/dL ou TFG < 30 mL/min
      • Pode causar desconforto gastrointestinal (tomar com alimentos)
      • Suspender 48h antes de exames com contraste iodado
      • Risco raro de acidose láctica (se insuficiência renal, hepática ou hipóxia)
      • Importante: Paciente que teve CAD sempre necessita insulina associada
    • Alternativa(s):
      • Glimepirida 2-4 mg – VO, 1x/dia pela manhã (se não estiver usando insulina prandial)
      • Empagliflozina 10-25 mg – VO, 1x/dia (EVITAR em quem teve CAD prévia)

 

  • ORIENTAÇÕES SOBRE AUTOMONITORIZAÇÃO
    • Manter glicosímetro funcional e fitas reagentes suficientes
    • Realizar glicemia capilar pelo menos 4x/dia:
      • Jejum (ao acordar)
      • Antes do almoço
      • Antes do jantar
      • Ao deitar
    • Anotar todos os resultados em caderneta ou aplicativo
    • Testar cetonas na urina se glicemia > 250 mg/dL ou em dias de doença
    • Levar as anotações nas consultas de endocrinologia

  • 👨🏻‍⚕️ Orientações ao paciente

    Sinais de alerta - procure atendimento médico imediatamente se apresentar:

    • Náuseas, vômitos persistentes ou dor abdominal intensa
    • Glicemia > 300 mg/dL que não melhora com insulina
    • Cetonúria positiva (3+/4+) ou cetonemia elevada
    • Dificuldade para respirar ou respiração acelerada/profunda
    • Confusão mental, sonolência excessiva ou dificuldade para despertar
    • Sede intensa e urinar muito (poliúria/polidipsia)
    • Fraqueza intensa ou incapacidade de se alimentar
    • Febre persistente ou sinais de infecção

    Recuperação esperada:

    • Melhora dos sintomas em 12-24h após início do tratamento hospitalar
    • Resolução completa da CAD em 24-48h na maioria dos casos
    • Internação hospitalar de 2-7 dias em média
    • Retorno gradual às atividades normais após alta (7-14 dias)

    Restrições de atividades:

    • Repouso relativo nas primeiras 48-72h após alta
    • Evitar exercícios físicos intensos na primeira semana
    • Retornar às atividades profissionais conforme liberação médica (geralmente 7-14 dias)
    • Não dirigir se glicemia < 70 ou > 250 mg/dL

    Orientações alimentares:

    • Manter alimentação regular, sem pular refeições
    • Fracionar alimentação em 5-6 refeições/dia
    • Evitar jejum prolongado (não ficar > 4h sem comer durante o dia)
    • Preferir carboidratos complexos (grãos integrais, legumes)
    • Evitar alimentos ricos em açúcar simples (doces, refrigerantes)
    • Manter hidratação oral adequada (2-3L água/dia)
    • Importante: NÃO fazer dietas restritivas ou jejum sem orientação médica

    Modificações no estilo de vida:

    • NUNCA omitir ou reduzir doses de insulina por conta própria - principal causa de nova CAD
    • Aplicar insulina nos horários corretos, mesmo que não sinta vontade de comer
    • Reconhecer e tratar precocemente infecções (principal fator desencadeante)
    • Ter sempre "kit de emergência" em casa: insulina extra, glicosímetro, fitas de cetonúria
    • Usar pulseira/identificação de diabético
    • Em dias de doença (gripe, infecção, etc.):
      • NÃO suspender insulina
      • Aumentar frequência de glicemia capilar (3/3h)
      • Testar cetonúria se glicemia > 250 mg/dL
      • Manter hidratação oral mesmo com náuseas
      • Procurar atendimento se cetonúria positiva

    Seguimento ambulatorial:

    • Retorno com endocrinologista em 7-15 dias após alta hospitalar
    • Acompanhamento endocrinológico regular (mínimo 3/3 meses)
    • Exames periódicos: HbA1c trimestral, função renal semestral
    • Consultas com nutricionista e educador em diabetes
    • Avaliação oftalmológica anual
    • Avaliação de pés e neuropatia em todas as consultas

    Prevenção de novas crises:

    • Aderir rigorosamente ao tratamento com insulina
    • Manter controle glicêmico adequado (HbA1c < 7%)
    • Reconhecer precocemente sinais de descompensação
    • Ter plano de ação para "dias de doença"
    • Educação continuada sobre diabetes e suas complicações

🔎 CID-10:

  • E10.1: Diabetes mellitus tipo 1 com cetoacidose
  • E11.1: Diabetes mellitus tipo 2 com cetoacidose
  • E13.1: Outros tipos especificados de diabetes mellitus com cetoacidose
  • E14.1: Diabetes mellitus não especificado com cetoacidose