Crise Convulsiva
Guia prático para manejo de crise convulsiva na emergência: prescrições detalhadas, classificação etiológica, investigação diagnóstica, tratamento do status epilepticus, indicações de internação e orientações de alta.
Paciente típico: Adulto jovem, 28 anos, previamente hígido, trazido ao PS por familiares após apresentar episódio de movimentos tônico-clônicos generalizados com duração de aproximadamente 2 minutos, atualmente em período pós-ictal com confusão mental e sonolência.
🩺 Guia rápido
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História clínica típica
# História Clínica
Paciente de ❓ anos, trazido por familiares ao PS após episódio de crise convulsiva há ❓ minutos/horas. Segundo testemunhas, paciente apresentou perda súbita da consciência seguida de movimentos tônico-clônicos generalizados dos quatro membros, com duração de aproximadamente ❓ minutos. Apresentou cianose labial, mordedura de língua, sialorreia e incontinência urinária. Após o término da crise, manteve-se confuso e sonolento.
Sintomas associados: cefaleia, febre, vômitos, trauma craniano.
Fatores precipitantes: privação de sono, consumo de álcool, uso de medicações, luzes piscantes.
Nega TCE prévio, cirurgias neurológicas, infecções do SNC.
Nega uso regular de anticonvulsivantes.
Nega alergias medicamentosas.
# Exame físico
REG, confuso, sonolento, responsivo a comandos verbais.
PA: ❓ mmHg | FC: ❓ bpm | FR: ❓ irpm | Tax: ❓°C | SatO2: ❓% em AA
Pupilas isocóricas e fotorreagentes.
Ausência de rigidez de nuca.
Força muscular preservada globalmente, sem déficits focais.
Sem sinais de trauma.
# HD
- Primeira crise convulsiva tônico-clônica generalizada
- Investigar crise provocada vs. sintomática aguda vs. sintomática remota
# Conduta
- Estabilização inicial (ABC, O2 se necessário, acesso venoso)
- Glicemia capilar imediata, correção se hipoglicemia
- Lateralização do paciente
- Não introduzir objetos na boca durante crise
- Solicitar: TC de crânio, hemograma, eletrólitos (Na, K, Ca, Mg), ureia, creatinina, glicemia, função hepática
- Aguardar período pós-ictal sem medicar se crise já cessou
- Anticonvulsivante apenas se: crise > 5 min, crises recorrentes ou status epilepticus
- Observação clínica
- Encaminhamento neurologia (ambulatorial)
- Alta se primeira crise única, TC normal, sem comorbidades, com familiar responsável
- Afastamento: ❓ dias (avaliar caso a caso)
Prescrição para paciente típico
No pronto-socorro:
# OBSERVAÇÃO: Maioria das crises é autolimitada e NÃO requer medicação
# Medicar apenas se: crise > 5 min, crises recorrentes ou status epilepticus
01. SF 0,9% 500 mL – Correr 250 mL EV em 2h, após manter acesso salinizado
# SE CRISE EM CURSO (> 5 min):
02. Diazepam 10mg/2mL – 01 ampola (10mg) EV pura, sem diluir (se crise persistente, repetir após 3-5 min)
Velocidade máxima: 2-5 mg/min | Dose máxima: 30-40 mg
# SE STATUS EPILEPTICUS (refratário a benzodiazepínicos):
03. Fenitoína 250mg/5mL – 20 mL (1.000mg) + SF 0,9% 250 mL, EV em 30 min
Dose: 15-20 mg/kg | Velocidade máxima: 50 mg/min
# SINTOMÁTICOS (se necessário):
04. Glicose 50% 20 mL – Aplicar EV lento, se glicemia < 70 mg/dL
05. Tiamina 100mg/mL – 01 ampola (100mg) IM, se etilista ou desnutrido (aplicar ANTES da glicose)
# PROTEÇÃO GÁSTRICA:
06. Omeprazol 40mg – 01 comprimido VO em jejum
# SE NÁUSEAS/VÔMITOS:
07. Bromoprida 10mg/2mL – 01 ampola (10mg) + 18 mL de AD, EV lento, se necessário
# CUIDADOS:
- Dieta oral liberada após recuperação completa da consciência
- Decúbito lateral durante observação
- Oximetria contínua
- Glicemia capilar na chegada e periódica (4/4h se internado)
- Proteger de quedas/traumas
- Observação neurológica
Para casa:
# IMPORTANTE: Anticonvulsivante crônico NÃO está indicado após primeira crise única
# Iniciar anticonvulsivante apenas se: lesão estrutural epileptogênica na TC/RM,
# atividade epileptiforme no EEG, ou após segunda crise não provocada
# ORIENTAÇÕES GERAIS:
01. Aguardar avaliação neurológica ambulatorial com TC de crânio e EEG
02. Evitar dirigir, operar máquinas, subir em locais altos até liberação médica
03. Retornar imediatamente se nova crise
# SE PACIENTE EPILÉPTICO CONHECIDO (má aderência):
01. [Anticonvulsivante habitual do paciente] – Reinstituir conforme receita anterior
Exemplo: Fenitoína 100mg ––––––––––– 90 comprimidos
Tomar 01 comprimido, VO, de 8/8h, uso contínuo
Para casa (receituário especial):
# APENAS SE PACIENTE EPILÉPTICO CONHECIDO OU APÓS AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA:
01. Fenitoína 100mg ––––––––––– 90 comprimidos
Tomar 01 comprimido, VO, de 8/8h (3x/dia), uso contínuo
OU
01. Carbamazepina 200mg ––––––––––– 90 comprimidos
Tomar 01 comprimido, VO, de 8/8h (3x/dia), uso contínuo
OU
01. Ácido Valproico 500mg ––––––––––– 60 comprimidos
Tomar 01 comprimido, VO, de 12/12h (2x/dia), uso contínuo
🏥 NO PRONTO-SOCORRO
-
⚠️ MANEJO E CUIDADOS INICIAIS
- ABCDE: Priorizar estabilização clínica e proteção de vias aéreas
- Lateralização: Posicionar paciente em decúbito lateral para prevenir broncoaspiração
- NÃO introduzir objetos na boca durante a crise (risco de trauma e obstrução)
- NÃO conter movimentos com força excessiva (risco de fraturas/luxações)
- Glicemia capilar imediata: Hipoglicemia é causa reversível e deve ser corrigida prontamente
- Oximetria e O2 suplementar se SatO2 < 94%
- Acesso venoso periférico
- Proteção contra traumas: Afastar objetos, proteger cabeça
- Aguardar resolução espontânea: A maioria das crises cessa em 2-3 minutos
- Medicação anticonvulsivante: Indicada APENAS se crise > 5 minutos, crises recorrentes ou status epilepticus
- Tiamina 100mg IM: Em etilistas ANTES de glicose (prevenir encefalopatia de Wernicke)
Classificação etiológica:
- Crise provocada: Fator agudo transitório (eletrólitos, hipoglicemia, abstinência, medicações, sepse)
- Crise sintomática aguda: Lesão neurológica nos últimos 7 dias (AVE, TCE, infecção SNC)
- Crise sintomática remota: Lesão cerebral antiga > 7 dias (sequela AVE, TCE prévio)
Valores de corte que cursam com crise:
- Glicemia < 36 ou > 450 mg/dL
- Sódio < 115 mEq/L
- Cálcio < 5,0 mg/dL
- Creatinina > 10 mg/dL
Investigação (primeira crise):
- Hemograma, eletrólitos (Na, K, Ca, Mg), glicemia, ureia, creatinina, função hepática
- TC de crânio sem contraste (obrigatório em primeira crise para excluir lesão estrutural)
- EEG (ambulatorial, após alta)
- Punção lombar se suspeita de meningoencefalite
- Nível sérico de anticonvulsivante em epiléptico conhecido
Sinais de alarme:
- Crise > 5 minutos
- Crises recorrentes sem recuperação da consciência entre elas (status epilepticus)
- Período pós-ictal prolongado (> 30-60 min)
- Déficit neurológico focal persistente
- Febre + rigidez de nuca (suspeita meningoencefalite)
- TCE associado
- Primeira crise em idoso (investigar AVE, tumor)
- BENZODIAZEPÍNICO (Primeira linha para crise em curso)
- Prescrição prática:
Diazepam 10mg/2mL – 01 ampola (10mg) EV pura (sem diluir), em bólus lentoVelocidade: 2-5 mg/min | Repetir após 3-5 min se persistênciaDose máxima: 30-40 mg total
- Alternativas:
Midazolam 5mg/mL – 2 mL (10mg) IM dose única, se acesso venoso difícilDiazepam 10mg/2mL – 4 mL (20mg) via retal, se sem acesso venoso
- Indicações:
- Crise convulsiva em curso com duração > 5 minutos
- Status epilepticus (primeira linha)
- Apresentações:
- Diazepam: ampola 10mg/2mL
- Midazolam: ampola 5mg/mL (5mg, 15mg, 50mg)
- Via(s): 💉 EV | 💉 IM (midazolam) | Retal (diazepam)
- Cuidados:
- Depressão respiratória: Monitorar oximetria, ter material de IOT disponível
- Hipotensão: Monitorar PA, especialmente em idosos
- Diazepam EV deve ser administrado PURO (não diluir), exceto em bomba de infusão contínua
- Se diluir diazepam: usar SF 0,9% ou SG 5%, estável por até 4h (precipita facilmente)
- Midazolam IM é preferível ao diazepam IM (melhor absorção)
- Dose midazolam: 0,2 mg/kg IM (máximo 10mg)
- Não usar diazepam IM (absorção errática)
- Velocidade de infusão: não exceder 2-5 mg/min para diazepam EV
- Prescrição prática:
- FENITOÍNA (Segunda linha - Status epilepticus refratário)
- Prescrição prática:
Fenitoína 250mg/5mL – 20 mL (1.000mg para 70kg) + SF 0,9% 250 mL, EV em 30-40 minDose de ataque: 15-20 mg/kg | Velocidade máxima: 50 mg/minManutenção: Fenitoína 100mg EV de 8/8h (após dose de ataque)
- Alternativas:
Fenobarbital 200mg/2mL (ver abaixo) – terceira linhaLevetiracetam 500mg/5mL – 30-60 mg/kg EV (não disponível no SUS em muitos locais)
- Indicações:
- Status epilepticus refratário a benzodiazepínicos
- Crise convulsiva que não cessa após 2 doses de diazepam
- Apresentações:
- Ampola 250mg/5mL (50mg/mL)
- Via(s): 💉 EV
- Cuidados:
- NUNCA diluir em solução glicosada (precipita imediatamente)
- Usar APENAS SF 0,9% ou Ringer Lactato
- Monitorar ritmo cardíaco (arritmias, bradicardia, hipotensão)
- Velocidade > 50 mg/min → risco de arritmia e hipotensão
- Flebite comum (veia calibrosa preferível)
- Cálculo dose: Peso × 20 ÷ 250 = número de ampolas
- Exemplo 50kg: 4 ampolas + 250 mL SF 0,9%, correr em 30 min
- Exemplo 70kg: 5-6 ampolas + 250 mL SF 0,9%, correr em 40 min
- Exemplo 90kg: 7 ampolas + 250 mL SF 0,9%, correr em 50 min
- Contraindicações: Bloqueio AV, bradicardia sinusal grave, hipersensibilidade
- Interações: Fenitoína tem múltiplas interações medicamentosas
- Monitorar nível sérico em uso crônico (alvo: 10-20 mcg/mL)
- Prescrição prática:
- FENOBARBITAL (Terceira linha - Status epilepticus super-refratário)
- Prescrição prática:
Fenobarbital 200mg/2mL – 10 mL (para 100kg) + SF 0,9% 90 mL, EV em 20 minDose: 10-20 mg/kg | Velocidade máxima: 50-100 mg/minDiluição: 1:9 (concentração final 10 mg/mL)
- Alternativas:
- Se refratário: sedação com midazolam, propofol ou tiopental (UTI)
- Indicações:
- Status epilepticus refratário a benzodiazepínicos + fenitoína
- Terceira linha no tratamento escalonado
- Apresentações:
- Ampola 100mg/mL (2mL) ou 200mg/2mL
- Via(s): 💉 EV | 💉 IM
- Cuidados:
- Depressão respiratória grave: Preparar IOT antes de administrar
- Hipotensão: Comum, especialmente com infusão rápida
- Sedação profunda: Esperar necessidade de VM
- Calcular: 0,1 mL/kg para apresentação 100mg/mL ou 1 mL a cada 10kg
- Diluir em SF 0,9% na proporção 1:9 (concentração final 10 mg/mL)
- Velocidade: não exceder 50-100 mg/min
- Monitorar PA, FC, FR, oximetria continuamente
- Contraindicações: porfiria aguda, insuficiência respiratória grave
- Meia-vida longa (até 5 dias em adultos)
- Difícil de suspender posteriormente (síndrome de abstinência grave)
- Prescrição prática:
- SEDAÇÃO CONTÍNUA (Quarta linha - Status epilepticus super-refratário)
- Prescrição prática:
Midazolam 50mg/10mL – 30 mL (150mg) + SF 0,9% 120 mL EV (concentração 1 mg/mL)Dose de ataque: 0,2 mg/kg EV lentoManutenção: 0,05-0,4 mg/kg/h em BIC
- Alternativas:
Propofol 1% ou 2% – Ataque: 1-2 mg/kg | Manutenção: 5-10 mg/kg/hTiopental 25mg/mL – Ataque: 100-250 mg | Manutenção: 3-5 mg/kg/h
- Indicações:
- Status epilepticus refratário às 3 linhas anteriores
- Requer IOT + VM + monitorização com EEG contínuo
- Manejo em UTI
- Apresentações:
- Midazolam: ampola 5mg/mL, 15mg/3mL, 50mg/10mL
- Propofol: ampola 10mg/mL (200mg/20mL) ou 20mg/mL
- Tiopental: frasco 500mg ou 1000mg (reconstituir)
- Via(s): 💉 EV contínuo (bomba de infusão)
- Cuidados:
- Somente em ambiente de terapia intensiva
- Intubação orotraqueal obrigatória antes de iniciar
- Monitorização com EEG contínuo (burst-suppression)
- Propofol: Risco de síndrome da infusão (acidose, rabdomiólise, PCR)
- Propofol: Diluir apenas em SG 5%, não usar SF 0,9%
- Tiopental: Reconstituir em SF 0,9% (concentração 25 mg/mL)
- Hipotensão grave é comum → usar vasopressores
- Titular dose conforme resposta no EEG
- Tempo de sedação: geralmente 24-48h, depois desmame gradual
- Contraindicações propofol: alergia a ovo/soja, insuficiência cardíaca grave
- Prescrição prática:
- GLICOSE HIPERTÔNICA (Correção de hipoglicemia)
- Prescrição prática:
Glicose 50% – 01 ampola (20 mL = 10g), EV lento (push)Repetir glicemia capilar após 15 minutos
- Alternativas:
Glicose 25% – 40 mL (20g) EV, se preferir concentração menorGlucagon 1mg IM, se acesso venoso indisponível
- Indicações:
- Glicemia capilar < 70 mg/dL
- Hipoglicemia é causa reversível de crise convulsiva
- Apresentações:
- Ampola glicose 50%: 20 mL (10g de glicose)
- Ampola glicose 25%: 20 mL (5g de glicose)
- Via(s): 💉 EV
- Cuidados:
- Administrar tiamina 100mg IM ANTES em etilistas/desnutridos
- Glicose sem tiamina pode precipitar encefalopatia de Wernicke
- Infusão rápida pode causar flebite
- Dose: 10-20g (1-2 ampolas glicose 50%)
- Repetir glicemia após 15 min e ajustar conduta
- Se glicemia não normalizar: iniciar infusão contínua SG 5% ou SG 10%
- Extravasamento causa necrose tecidual (atenção!)
- Prescrição prática:
- TIAMINA (Prevenção encefalopatia de Wernicke)
- Prescrição prática:
Tiamina 100mg/mL – 01 ampola (100mg), IM dose únicaAdministrar ANTES da glicose em etilistas e desnutridos
- Indicações:
- Paciente etilista crônico
- Desnutrição
- Situações de risco para deficiência de tiamina
- Apresentações:
- Ampola 100mg/mL (1mL ou 2mL)
- Via(s): 💉 IM | 💉 EV
- Cuidados:
- Administrar SEMPRE ANTES da glicose em pacientes de risco
- Via IM é preferível (menor risco de reação anafilática)
- Via EV: diluir em SF 0,9% 50-100 mL, correr em 30 min
- Reação anafiláctica é rara mas possível (ter adrenalina disponível)
- Dose: 100mg/dia por 3-5 dias em internados
- Após estabilização: tiamina 100mg VO diário (manutenção)
- Prescrição prática:
- PROTETOR GÁSTRICO
- Prescrição prática:
Omeprazol 40mg – 01 comprimido VO em jejum, 1x/diaOmeprazol 40mg/10mL – diluir em 90 mL SF 0,9%, EV em 20 min, 1x/dia
- Alternativas:
Pantoprazol 40mg – 01 comprimido VO em jejumPantoprazol 40mg – diluir em SF 0,9% 100 mL, EV em 20 min
- Indicações:
- Profilaxia de úlcera de estresse em pacientes internados
- Uso de corticosteroides
- Apresentações:
- Comprimidos: 20mg, 40mg
- Ampolas EV: 40mg
- Via(s): 💊 Oral | 💉 EV
- Cuidados:
- Tomar em jejum, 30 min antes do café
- Não mastigar comprimido (revestimento entérico)
- Interação com clopidogrel (reduz eficácia)
- Prescrição prática:
- ANTIEMÉTICO
- Prescrição prática:
Bromoprida 10mg/2mL – 01 ampola (10mg) + 18 mL AD, EV lento, de 8/8h
- Alternativas:
Metoclopramida 10mg/2mL – 01 ampola (10mg) + 18 mL AD, EV lento, de 8/8hOndansetrona 8mg/4mL – 01 ampola EV lento, de 8/8h
- Indicações:
- Náuseas e vômitos no período pós-ictal
- Apresentações:
- Bromoprida: ampola 10mg/2mL
- Metoclopramida: ampola 10mg/2mL
- Ondansetrona: ampola 4mg/2mL ou 8mg/4mL
- Via(s): 💉 EV | 💉 IM | 💊 Oral
- Cuidados:
- Diluir em água destilada (10-20 mL)
- Sintomas extrapiramidais (raros): acatisia, distonia
- Contraindicação: epilepsia não controlada (baixa limiar convulsivo)
- Dose máxima: 30mg/dia
- Evitar uso prolongado
- Prescrição prática:
🏠 PARA CASA
CONCEITO FUNDAMENTAL:
- Após primeira crise única sem lesão estrutural ou alteração no EEG, NÃO está indicado iniciar anticonvulsivante crônico
- Anticonvulsivante crônico está indicado apenas em:
- Segunda crise não provocada (= diagnóstico de epilepsia)
- Primeira crise COM lesão epileptogênica na neuroimagem
- Primeira crise COM atividade epileptiforme no EEG
- Primeira crise noturna (risco aumentado)
- Paciente epiléptico conhecido com má aderência: reinstituir medicação habitual
- Ajuste de dose ou troca de anticonvulsivante: encaminhar para neurologista
- ANTICONVULSIVANTE CRÔNICO (Apenas se indicado)
- Prescrição:
Fenitoína 100mg – Tomar 01 comprimido, VO, de 8/8h (3x/dia), uso contínuoQuantidade: 90-180 comprimidos (prescrição controlada - notificação B)
- Indicações:
- Epilepsia confirmada (duas ou mais crises)
- Primeira crise com lesão estrutural epileptogênica
- Primeira crise com EEG epileptiforme
- Apresentações:
- Comprimidos 100mg
- Posologia:
- Adultos: 300-400 mg/dia (dividido 8/8h ou 12/12h)
- Dose usual: 5-7 mg/kg/dia
- Ajustar conforme nível sérico (alvo 10-20 mcg/mL)
- Cuidados:
- Requer receituário de controle especial (notificação B)
- Tomar sempre no mesmo horário
- Não suspender abruptamente (risco de crise)
- Cinética saturável: pequenos aumentos de dose → grandes aumentos no nível sérico
- Induz metabolismo de outras drogas (anticoagulantes, anticoncepcionais, etc)
- Efeitos colaterais: hiperplasia gengival, hirsutismo, ataxia, nistagmo
- Toxicidade: ataxia, diplopia, nistagmo, confusão (geralmente > 20 mcg/mL)
- Interações: múltiplas (warfarina, ACO, carbamazepina, valproato, etc)
- Monitorar função hepática periodicamente
- Mulheres em idade fértil: Suplementar ácido fólico 5mg/dia
- Contraindicações: gravidez categoria D, bloqueio AV
- Alternativa(s):
Carbamazepina 200mg – Tomar 01 comprimido, VO, de 8/8h, uso contínuo (crises focais)Ácido Valproico 500mg – Tomar 01 comprimido, VO, de 12/12h, uso contínuo (crises generalizadas)Levetiracetam 500mg – Tomar 01 comprimido, VO, de 12/12h, uso contínuo (menos interações, custo maior)
- Prescrição:
- ORIENTAÇÕES GERAIS (Primeira crise)
- Prescrição:
Retorno com neurologista para avaliação e solicitação de EEGTrazer resultado da TC de crânio na consulta
- Indicações:
- Todo paciente com primeira crise convulsiva não provocada
- Cuidados:
- Aguardar avaliação neurológica antes de iniciar anticonvulsivante crônico
- Investigação ambulatorial completa (EEG, RM se TC alterada)
- Seguimento para definir necessidade de tratamento crônico
- Prescrição:
- 👨🏻⚕️ Orientações ao paciente
-
Retornar IMEDIATAMENTE ao pronto-socorro se:
- Nova crise convulsiva
- Crise com duração > 5 minutos
- Múltiplas crises em sequência
- Febre, rigidez de nuca, cefaleia intensa (suspeita meningite)
- Confusão mental prolongada (> 1-2 horas)
- Fraqueza ou paralisia de um lado do corpo
- Dificuldade para falar
- Trauma craniano durante crise
-
Restrições de atividades:
- NÃO dirigir veículos até liberação médica (geralmente 6-12 meses sem crises)
- NÃO operar máquinas perigosas
- NÃO subir em locais altos (escadas, andaimes)
- NÃO nadar sozinho (risco de afogamento)
- Evitar atividades de risco até avaliação neurológica
- Banho de chuveiro preferível (evitar banheira)
-
Evolução esperada:
- Período pós-ictal pode durar minutos a horas (confusão, sonolência, cefaleia)
- Recuperação neurológica completa esperada em 24-48h
- Paresia de Todd (fraqueza focal transitória) pode durar até 48h
- Mialgias difusas são comuns nos dias seguintes
-
Modificações de estilo de vida:
- Dormir 7-8 horas por noite (privação de sono é gatilho)
- Evitar consumo excessivo de álcool
- Evitar luzes piscantes se fotossensível
- Controlar estresse
- Aderir rigorosamente à medicação SE prescrita
- Não suspender anticonvulsivante abruptamente (risco de status epilepticus)
-
Seguimento:
- Consulta com neurologista em 15-30 dias
- Levar resultado da TC de crânio
- EEG será solicitado pelo neurologista
- Reavaliação periódica se iniciar anticonvulsivante
-
Informações importantes:
- Primeira crise única NÃO significa epilepsia
- Maioria dos pacientes não terá nova crise
- Anticonvulsivante geralmente não é necessário após primeira crise isolada
- Familiares devem saber o que fazer durante crise:
- Lateralizar paciente
- Afastar objetos
- NÃO introduzir nada na boca
- NÃO segurar/conter com força
- Cronometrar duração
- Chamar 192 se > 5 minutos
-
Afastamento laboral:
- Geralmente não necessário após primeira crise única
- Se atividade de risco: afastar até avaliação neurológica
- Motoristas profissionais: afastamento prolongado conforme legislação
-
🔎 CID-10:
- G40.9: Epilepsia, não especificada
- G41.0: Estado de mal epiléptico de grande mal convulsivo (status epilepticus)
- G41.9: Estado de mal epiléptico, não especificado
- R56.0: Convulsões febris
- R56.8: Outras convulsões e as não especificadas (primeira crise)